Marta sempre sonhou com a tranquilidade de viver sozinha em uma casa antiga e cheia de personalidade. Após um longo período de estresse com o trabalho, ela decidiu se mudar para uma propriedade isolada, situada nos arredores de uma pequena cidade. Quando viu a casa pela primeira vez, imediatamente soubera que era o lugar perfeito para começar uma nova fase de sua vida. A construção era do século XIX, com janelas grandes, portas de madeira escura e detalhes góticos que a faziam parecer saída de um conto sombrio.
Porém, havia algo peculiar nela. Ao explorar os cômodos, Marta encontrou um porão com uma porta robusta, de madeira maciça, trancada por um cadeado enferrujado, como se alguém tivesse feito questão de mantê-la fechada por anos. Curiosa, mas sem pensar muito sobre aquilo, decidiu ignorar a porta, concentrando-se em organizar seus móveis e estabelecer uma rotina.
Nos primeiros dias, Marta começou a perceber pequenas coisas estranhas. A luz da cozinha piscava constantemente, mesmo depois de substituir a lâmpada. À noite, ela ouvia sons de arranhões vindos do porão, como se algo ou alguém estivesse tentando escapar. Ao abrir o espelho do banheiro, encontrou frases desenhadas com o vapor do chuveiro: "NÃO ABRA", "ELE ESTÁ AQUI", "FUGE".
Ao tentar racionalizar os fenômenos, Marta procurou por explicações mais lógicas: talvez fosse algum tipo de falha elétrica, ou quem sabe o encanamento da casa, velho e desgastado, estivesse causando esses sons. Mas, conforme os dias passavam, os sinais se tornaram mais intensos. Ela notou que seus sonhos estavam sendo invadidos por imagens perturbadoras de uma figura sombria que sussurrava seu nome.
Uma noite, acordou com um grito distante, quase abafado, vindo do porão. Assustada, Marta ignorou por um momento. Mas a curiosidade a consumiu. Com o coração acelerado, pegou uma lanterna e desceu até o porão, onde a porta trancada aguardava. Para sua surpresa, o cadeado estava entreaberto, como se tivesse sido deixado propositadamente acessível.
A porta do porão rangeu quando Marta a empurrou para dentro. O cheiro de mofo e umidade era quase insuportável, mas o que mais chamou sua atenção foi uma mesa de madeira escura no centro da sala, com uma caixa de joias sobre ela. A caixa era pequena, com detalhes minuciosos e incrivelmente bem preservada, apesar da idade da casa. Seus ornamentos dourados pareciam brilhar com um tom sobrenatural, refletindo a luz da lanterna com uma intensidade quase hipnótica.
Quando Marta se aproximou da caixa, uma sensação de frio intenso a envolveu, e ela sentiu uma pressão crescente em seu peito. Uma sensação de pavor tomou conta de seu corpo, mas ela não conseguiu resistir. Ao tocar na caixa, ouviu uma voz baixa, quase inaudível, em sua mente: "Deixe-me sair…"
Seu coração disparou, mas, antes que pudesse reagir, a caixa se abriu sozinha. Dentro dela, estava um amuleto de prata, uma pedra negra e uma carta amarelada pelo tempo. A carta dizia: "Aquele que abrir a caixa libertará o que está preso. Nunca abra a caixa. O demônio do porão aguarda o momento certo."
O terror tomou conta de Marta. Ela sabia que algo estava terrivelmente errado, mas sua mente não conseguia processar a ideia de um demônio preso ali, esperando para ser libertado. Ela sentiu o ar gelado ao redor e ouviu, pela primeira vez, o sussurro claro: "Agora você me pertence."
Desesperada, Marta pesquisou a história da casa e descobriu algo aterrador. Durante o século XIX, o local foi comprado por um culto satanista que realizava rituais de invocação no porão. Nos arquivos da cidade, ela encontrou documentos que contavam que, em uma noite de culto, o demônio foi invocado, mas não contavam com o poder sombrio que ele trazia. O líder do culto, temendo a fúria da criatura, conseguiu aprisioná-la em um artefato mágico, selando-a dentro da caixa de joias. No entanto, para garantir que o demônio não fosse libertado, o porão foi trancado e deixado intocado.
Marta sabia que o que havia aberto não era apenas uma caixa, mas o portal para algo muito mais sombrio.
A partir daquele momento, os fenômenos sobrenaturais na casa ficaram cada vez mais intensos. As luzes piscavam com mais frequência, as sombras pareciam se mover por conta própria, e, em algumas noites, Marta ouvia passos pesados atrás de si, mesmo quando estava sozinha. Ela começou a perder noites de sono e sentiu um peso constante em sua mente.
Em uma noite particularmente assustadora, ao tentar dormir, ela viu uma figura humana se aproximando de sua cama. Uma sombra de olhos vermelhos e uma presença opressiva, que emanava uma energia maligna. Marta tentou gritar, mas sua voz falhou, e o ser desapareceu tão repentinamente quanto havia aparecido.
O pior veio na noite em que Marta foi até o porão pela última vez. Ao descer, ela sentiu uma presença atrás de si, como se estivesse sendo observada. A caixa de joias estava aberta, e a pedra negra havia desaparecido. Ela não sabia o que fazer, mas sentiu que a entidade estava pronta para tomar o controle.
Ao tocar a caixa, uma onda de escuridão a envolveu. Seu corpo ficou rígido, e ela sentiu uma força sobrenatural a arrastando para o fundo do porão. Na manhã seguinte, quando a polícia chegou, encontraram a caixa em cima da mesa, mas Marta havia sumido sem deixar rastros.
Alguns dizem que, até hoje, quem passa pela casa pode ouvir o sussurro vindo do porão: "Deixe-me sair…" e que, em noites mais escuras, a figura de Marta pode ser vista, vagando pelos cômodos, condenada a carregar a maldição da caixa para sempre.
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